sexta-feira, 26 de novembro de 2010

OS IRMÃOS MORAM AO LADO

Portrait de Enikõ Szabó, fotomanipulada por Jorge Marin

Antes de começar a contar este causo, irei, primeiramente, posicionar melhor nossos amigos leitores.
Gostaria de explicar que a entrada de minha oficina fica bem ao lado da porta de outro cômodo. Nesta outra porta, existe um galpão para aluguel, sendo que o corredor de passagem é comum aos dois proprietários.
Importante ressaltar também que existia, na época, um acesso privativo de minha casa até a oficina.
Sempre foi uma convivência pacífica, até que (como eu poderia dizer?) fatos começaram a acontecer.

Vamos, então, ao Causo: OS IRMÃOS MORAM AO LADO.

Capítulo 1: A Noiva e o Lixo (que não era o Noivo)

Bendita a hora em que deixei para colocar meu lixo na rua!

Após abrir a porta, de repente, a porta de minha oficina, com um grande saco de lixo na mão, deparei-me com algo extremamente inesperado. E põe inesperado nisso! Acredite quem quiser, mas, simplesmente, dei de cara com uma noiva. Isto mesmo! Uma noiva. Toda de branquinho, com um longo e belo vestido, vinha ela em minha direção.
Em lágrimas, de braços dados com o pai, e escoltada por duas damas de honra: era só emoção...
Caminhando em passos lentos, adentrando pelo corredor de minha oficina, parecia mesmo que vinha ao meu encontro. E foi o que aconteceu.
Até que ficamos só nós, frente a frente.
O cenário era aquele tradicional de casamento: música ao vivo, perfume no ar, fotografias, flores, e muita gente bonita e chique.
Tudo na mais perfeita beleza e harmonia, se não fosse pelo simples fato, de eu estar ali, no meio do caminho.
Pois, acreditem, lá estava eu, de short (furado), sem camisa, com um saco de lixo na mão, e sem nada entender do que estava acontecendo.
Cheguei, por alguns momentos, até mesmo a pensar em pegadinha, mas a cena estava muito perfeita para tal. E também, quem poderia ser capaz? Que eu conheça, ninguém!
Foi, realmente, uma situação não muito agradável, mas perfeitamente entendida por ambas as partes.
Numa hora dessas, que é que eu poderia fazer? Nada! Simplesmente, me desculpei, desejei boa sorte, e fui atravessando o cortejo. Bem de ladinho.
Entre chegas pra lá, pede licenças e empurrões, fui passando no cantinho do corredor. Enquanto ralava as costas na parede, fui, mais do que depressa, colocar meu mico... digo, meu lixo, na calçada. Isto, sem contar que, por um triz, quase deixei um pedaço de meu calção ficar para trás. Uma ponta de prego, mal posicionada na parede, quase piorou, ainda mais, aquela patética cena.
Mas... Há males, que vem prá bem.
Esta quase tragédia serviu para que despertasse em mim, a realidade, de não estar mais sozinho, e que teria de dividir, dali em diante, com meus queridos irmãos evangélicos, aquele espaço. (Pelo menos, o corredor, até então, só meu).
Foi a partir deste acontecimento, que outros fatos, nem tantos rotineiros e de certa forma hilariantes, começaram a acontecer.
NA PRÓXIMA SEMANA: Consertos e Curas (ou Quem não Sara, Solda).

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

FILMES QUE EU NÃO VI NO CINE BRASIL



Quando o assunto é cinema, às vezes me pego naquele dilema típico de todos os cinéfilos, e sempre lembrado nos comentários do meu amigo Brandão, presença constante em nossos fóruns: estamos falando de um filme-filme ou de um filme-arte? É só entretenimento ou aquela “razão esclarecedora” de que falam os filósofos socialistas? Pois eu resolvi pular esta parte, e usar como álibi o gênio de Luis Buñuel, segundo o qual, “a hipnose cinematográfica, leve e inconsciente, deve-se, sem dúvida, à obscuridade da sala, mas também às mudanças de planos, de luzes e aos movimentos da câmera, que enfraquecem a inteligência crítica do espectador e exercem sobre ele uma espécie de fascinação e de violação.”
Assim, já previamente hipnotizado fui para a fila, repleta de adolescentes, comprar meu ingresso para o megahit “Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1”. Na fila, fui acompanhado dos meus filhos: o mais velho, que acompanha Potter desde os 18 anos; e o mais jovem, que nasceu junto com o “Cálice de Fogo”, de 2005. Ali mesmo já foi possível perceber a extensão do fenômeno potteriano: uma garota disse que estava comprando ingressos para as duas sessões, para a dublada e para a legendada, nesta para perceber a obra cinematográfica como ela foi feita e, na dublada, simplesmente para não perder nenhum movimento de Daniel Radcliffe, “nenhuma piscada de olho”, segundo ela.
Por este movimento, já se percebe que, mais do que um filme, Harry Potter passou a ser um ritual obrigatório para crianças e adolescentes, um fenômeno de massa que tem o mérito de trazer para o nosso dia a dia, através da escrita de J. K. Rowling, as histórias mitológicas, os seres fabulosos e os banidos elementais, todos distantes dos personagens-máquinas então presentes nas mídias infantis.
É esta mistura, que tantos tentaram, mas que, estranhamente deu certo para esta inglesa, escrevendo em bares enquanto a filha dormia, morando de favor, enquanto corria o divórcio contra o marido português. Enfim, “Vingardium Leviosa”, diz o feitiço inventado por ela, leve e para a cima!
Por todos estes motivos, era de se esperar que o filme atraísse uma multidão de apaixonados e nostálgicos. Quem assiste Harry Potter pela primeira vez neste “Relíquias da Morte; Parte 1”, certamente não vai conseguir entender o que se passa. O diretor David Yates, que também dirigiu o quinto e o sexto episódios, simplesmente capta a história e retrata o momento crucial para os três adolescentes protagonistas, que assumem a vida adulta e se afastam, literalmente, dos familiares. Ou seja, esta é a história de Harry, Ron e Hermione.
Quem leu o livro, sabe que seria impossível colocar todo aquele conteúdo – são 759 páginas – em apenas um filme. Desta forma, o episódio funciona como a primeira voz de um contraponto, em que o grand finale ocorrerá na segunda parte, da mesma forma que Matrix Reloaded ou As Duas Torres (do Senhor dos Anéis).
Neste filme, ou deveria dizer, penúltimo capítulo, o ambiente está particularmente sombrio. Não por acaso, a franquia buscou um diretor de fotografia excelente, o português Eduardo Serra, indicado para o Oscar pelo trabalho fantástico em “Moça com Brinco de Pérola”, em que teve a tarefa de representar os detalhes de luz e sombra da pintura de Vermeer. Aqui, a luz passa longe, e o Lorde das Trevas reina absoluto. Não tem mais a situação de conforto da Escola de Hogwarts, não tem, como foi dito, nem mamãe nem papai, nem Quadribol, nem gravatinhas vermelhas ou meias três quartos. Que me perdoem os que não viram “O Enigma do Príncipe”, mas Dumbledore foi assassinado, e os antigos protetores, o gigante Hagrid (Robbie Coltrane) e o professor Alastor Mad-Eye (Brendan Gleeson), embora ofereçam uma proteção aparentemente forte no início do filme, quando Harry tem de ser retirado da casa de seus tios, na Rua dos Alfeneiros, o que se vê é que os três amigos estão agora por sua própria conta e risco, contando, é claro, com as habilidades aprendidas na escola de magia (sobretudo por Hermione), mas tendo apenas um ao outro para confiar.
Aqui, surgem dois complicadores: primeiramente, uma coisa que é intrigante no livro: as pistas, deixadas por Dumbledore são tão obscuras que acabam sendo quase inúteis. Sabe-se que os místicos costumam falar e escrever em códigos compreensíveis apenas para os iniciados, mas, no presente caso, ninguém consegue entender absolutamente nada. Outro complicador, desta vez natural, é a sexualidade, que vem com a maturidade dos personagens. Afinal, e é grande questão das adolescentes, Hermione vai “ficar” com Harry ou com Ron?
Com esta importante questão, fecho a primeira parte desta crítica. Se a Warner retalhou o filme em duas partes, dou-me o direito de também criticar a primeira parte em duas. A segunda estará disponível no domingo à noite. Portanto, para proteger a todos contra a ameaça dos Dementadores, deixo-os protegidos: Expecto Patronum!

(Crítica – Jorge Marin)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

MINHA PRIMEIRA VEZ - FINAL



Na semana passada, como bem recordam, era chegada a hora do encontro. Confesso que lembrei disso a semana inteira. Posso me arriscar a tomar um beliscão após esta postagem, mas foi uma coisa que ficou gravada na minha memória. Foi assim:
Lá fui eu, banhozinho tomado, cabelo penteado, perfume atrás da orelha e, pasmem, até o tênis lavado. E era tudo por uma boa causa. Ia caminhando a passos largos em direção ao centro da cidade, local onde ela trabalhava.
A maioria das pessoas já havia saído, e as coisas foram acontecendo, numa rotina deliciosamente natural, embora eu estivesse com o coração a ponto de sair pela boca. Até para não correr o risco de apanhar, vou pular alguns detalhes de ajustes e vacilos que sei que a maioria comete, mas nada que atrapalhasse o melhor da festa.
Enfim... Era chegado o tão esperado momento.
Finalmente, lá estávamos... frente a frente...
Ao me aproximar dela, meio ressabiado, confesso que pensei em desistir. Quando a encarei diretamente, ela permaneceu impassível, como se aquilo fosse absolutamente natural para ela (hoje eu sei que era) e, ao mesmo tempo como se ansiasse também pela ação.
Meu coração começou a pulsar mais rápido e as mãos ficarem frias. Quanta emoção!!!!
Após trocarmos aquele fulminante olhar, procurei ser bastante objetivo e assim, não perder o mínimo tempo. Afinal, eu queria muito e ela nunca escondeu sua disponibilidade.
Pra começo de conversa, me senti bem seguro, pois, para minha sorte, percebi instantaneamente, ser ela, além de tudo, extremamente submissa.
Sendo assim, já sentindo a situação sob controle, procurei sempre, não sei como, tomar a todo o momento, a iniciativa das ações.
E não é que ela foi com minha cara!!!!
Eu sentia que, a cada toque, ela me aceitava mais e mais e, para minha alegria, ainda me impulsionava, a todo instante, a seguir cada vez mais em frente. Não acreditava naquilo que eu via: à medida que eu avançava, atrevidamente, ela pedia mais e mais. Gente, eu não sabia que eu poderia ser tão bom assim naquela coisa.
Por nenhum momento, me fez sentir que poderia estar cometendo algum tipo de erro. Desta forma sem perder tempo, continuei manter meus movimentos ousados e delicados sobre ela.
Comecei a ficar bem à vontade, pois, a cada toque, ela me correspondia com sinais, gemidos e ruídos de aprovação.
Enquanto íamos, cada vez mais, interagindo, eu começava até vislumbrar aquele final tão esperado.
A cada toque, mais prazer eu sentia até que, para minha surpresa, simplesmente, ela própria tomou a iniciativa de pedir-me que nela inserisse aquilo que eu tanto desejava.
Mesmo um tanto tímido, pelo tamanho daquilo que eu teria a oferecer, não me contive e mandei bala. E que momento!!!!!!!
Procurei introduzir lentamente, mas ela, para meu espanto (e deleite), informou de pronto que eu deveria introduzir completamente, e, sem cerimônia, puxou tudo de uma só vez.
E que prazer!!!!!
Pena que a rapidez do momento desfaria, em questão de segundos, aquele ato tão sonhado.
E a danada continuou me surpreendendo, questionando, descaradamente, se eu queria fazer outra. (Negativo e inoperante) fiz-me entender!!!
Desta forma, após mostrar que minha tarefa havia sido cumprida com sucesso, ainda ficamos a trocar um breve olhar apaixonado, até que finalmente saí, com as pernas um pouco bambas.
Minha vontade era de agradecer, mas... tenho certeza que ela jamais me escutaria.
Fiquei tão entusiasmado que, antes mesmo de sair, já estava a pensar no outro dia. (Um outro encontro... quem sabe!!!!!)
Muito possivelmente, amanhã, ainda não terei bala na agulha para repetir tudo aquilo de novo. Mas, com certeza: poderei pegar o saldo ou mesmo sacar um pouco daquela grana, que há pouco, bem há pouco, coloquei no envelope, e nela introduzi. Jamais esquecerei as iniciais do nome dela: A.T.M.
Para ser sincero, ainda não sei aonde poderá nos levar esta revolução tecnológica desenfreada, com suas máquinas maravilhosas, mas... Que o trem é bom, isto é!

A primeira vez, em uma Máquina Eletrônica, de uma agência bancária, a gente nunca esquece!

(Crônica – Serjão Missiaggia / Adaptação – Jorge Marin)

NOTA DO AUTOR: “Coincidentemente, dias atrás, ao dirigir-me ao banco para fazer um saque, surgiu, na tela, a seguinte mensagem: “Sem cédulas. Por favor, utilizar outro terminal. Operação indisponível no momento.” Achei superinteressante, pois, encontrar uma Máquina Eletrônica “durinha da silva” foi também, a primeira vez!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A BUSCA DA FELICIDADE - FINAL

Digital art por Tsuki Takarai

Nas últimas duas semanas, falamos sobre os aspectos externos da felicidade. Mas, será que existe um aspecto interno? Isso é o que vamos avaliar a partir de agora.
Todos temos o nosso Ego, o nosso Eu. E o que é o Eu? O Eu é forma como fazemos a leitura da nossa existência. Muito criticado nos meios religiosos, o Eu garante a nossa existência. Caso esta percepção do Eu não existisse, nós também não existiríamos, pelo menos no nosso ponto de vista pessoal.
Mas, ter consciência de sua existência é uma coisa, achar-se o centro do universo é outra. A verdade é que, para não ser absorvido, dissolvido mesmo no torvelinho de informações do mundo moderno, o homem tenta desesperadamente se destacar. Somos ensinados que felicidade é o mesmo que sucesso pessoal. E este sucesso é obtido através do prazer, de preferência da obtenção daqueles objetos que poucas pessoas possuem. Desta forma, a felicidade só será atingida quando conseguirmos ser aquilo que queremos ser: vencedores de uma batalha que engendramos todos os dias para conquistar aquilo que nos parece importante; na realidade, pequenas necessidades e ambições engrandecidas pelos nossos desejos.
A própria História da Humanidade é baseada nesta lógica de conquistas, batalhas e derrotas, não necessariamente nesta ordem. Quando repetimos estes feitos, temos a nítida sensação de ter atingido a felicidade. Quando nos apaixonamos, ou nos graduamos, ou obtemos uma promoção no trabalho, ou adquirimos um bem luxuoso, vamos dormir com aquela sensação de preenchimento e de contentamento. Mas, já no dia seguinte, a insatisfação ressurge, a realidade não é suficiente para atender às crescentes expectativas. Aí, caímos de novo na armadilha: planejamos, projetamos a felicidade para um futuro, ainda que próximo, e retomamos a luta. Sabe aquela história de “estou correndo atrás”? Pois é, a felicidade está sempre a nossa frente, no tempo, num futuro que jamais chega, e dentro desta lógica egóica, jamais chegará.
A lógica egóica é muito simples: é feliz quem faz o que quer, consegue ser o que deseja ser, e não tem de dar satisfação a ninguém. Muitos objetarão que isto é um julgamento moral, mas isto é apenas uma constatação de que o Eu quer, mais do que tudo, preservar a sua integridade e, para tal, não hesita em manifestar este comportamento tipicamente infantil.
É claro que vivemos num mundo material e, certamente, não há nada condenável em ter desejos e ambições, e nem imoral em satisfazer os sentidos humanos. Mas, atrelar a conquista da felicidade a estes objetos de desejo, é tão inútil quanto achar que somos pessoas diferenciadas no universo. Porque, se assim fosse, haveria uma conquista de felicidade específica para cada Eu. E isto seria impossível, por dois motivos: primeiro, porque o Eu sempre quer tudo para si; e, em segundo lugar, porque o Eu acha que o mundo é ele mesmo.
Entretanto, sair desta teia, desfiar esta trama, é uma tarefa difícil, que só poderá ser atingida, quando escaparmos justamente desta armadilha de fixação de metas e resultados. Neste novo modelo, a busca da felicidade seria outra que não a promoção de nossos Eus em detrimento dos nossos semelhantes. Uma condição para a felicidade é a existência, plena e serena, atenta e livre, num ambiente livre de conflitos, angústias e ansiedades.
Dentro deste estado de equilíbrio, a felicidade deixa de ser efeito, e passa a ser causa. Aliás, este estado de equilíbrio e repouso mental É a felicidade. Portanto, todo este blá-blá-blá em torno da busca da felicidade é uma grande ilusão, é a crença ilusória nestes mecanismos de defesa do Eu, necessários à nossa autoconsciência, mas nada mais do que artefatos, assim como um “data show” ou um filme em 3D.
Isto não quer dizer que os nossos desafios cotidianos e nossas interações sociais não existam. Eles existem, assim como os conflitos inerentes ao nosso cotidiano. Mas, só porque existem conflitos, não significa que temos de vencer todos eles, mas sim observá-los, olhar para eles, e compreender a sua natureza.
Não serão os nossos pecados, nem as nossas virtudes que irão determinar o nosso grau de felicidade, principalmente porque não há grau de felicidade, mas estado de felicidade. Um estado que advém da subversão das nossas relações objetais, uma janela aberta para o mundo, para sabermos que não somos separados do universo e, principalmente, que não somos eternos.
E, quando conseguirmos enxergar o fluxo da existência, livre da luta pela sobrevivência e da imposição dos próprios desejos, estaremos começando a vivenciar o estado de plena felicidade. Titia Rita Lee (e Paulo Coelho), na música O Toque, já diziam que “você é uma criança do universo, e tem tanto o direito de estar aqui quanto as árvores e as estrelas e, mesmo que isto não esteja claro para você, não há dúvidas que o universo segue o rumo que todos nós escolhemos.” Isto é, todos nós juntos, sem prevalência de nenhum eu especial, sem posse de bens definidos e, principalmente, sem nenhuma espécie de conflito.
Aqui, no blog, sempre passamos esta mensagem de uma determinada noite, e a gente voltando dum baile, galos cantando, brisa fresca da manhã e cheiro de pão fresco. Seria isto a felicidade? E por que não?

(Crônica: Jorge Marin)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

MINHA PRIMEIRA VEZ



Por várias vezes, o assunto do qual vou falar esteve na pauta do dia mas, na última hora, eu não tinha coragem de postar. Os motivos do recuo eram muitos: será que um assunto desses deveria ir para o blog? O que é que os leitores vão pensar? Meio envergonhado, cheguei até a pedir a opinião da Dorinha e ela, ao contrário das minhas expectativas, achou “uma besteira”. Trago o caso também para conhecimento dos mais novos, até para mostrar como as coisas eram difíceis para pessoas da minha idade.
Então vamos lá: primeiramente devo dizer que, por ser minha primeira vez, não fui tão mal assim!
Valeu a pena esperar, pois, após um longo tempo de espera e ansiedade, enfim tive coragem de me aproximar dela.
De minha parte, nosso namoro até que já vinha rolando há algum tempo, mas só mesmo em troca de olhares. Mesmo sendo ela recém-chegada à cidade, de imediato, começou a despertar o interesse de todos, e comigo não poderia ser diferente. A cada dia que passava, mais ansioso eu ficava para conhecê-la.
Aproximar-me dela já era questão de honra e eu não via a hora em que pudesse enfim: apertá-la... apertá-la e apertá-la. Desculpem-me, mas, qualquer um que a conhecesse iria ficar desta forma, descontrolado: primeiro, pela beleza, pois, as outras que me desculpem, mas beleza assim, eu jamais tinha visto antes. Um verdadeiro “avião” para os padrões da época. Depois, as formas. Mais do que perfeitas, eram um verdadeiro convite à ação.
De certa forma, para com algumas pessoas, eu até sentia uma espécie de inveja, principalmente em saber que já tinham ficado tão íntimos dela. Como se tornara muito popular, sempre acontecia, em determinados horários de seu trabalho, uma imensa fila, só prá poder cortejá-la. Que ódio ao ver aquele bando de marmanjos babando ao redor dela, e com aqueles olhares pidões.
Mesmo começando a sentir um pequeno ciúme, o máximo que eu conseguia era, no máximo, trocar alguns lampejos de olhares distantes. Eu olhava... Olhava... E ia embora, sem coragem de sequer me aproximar. Na verdade, meu medo maior era de que não nos entendêssemos na primeira vez. Tem gente que é atirada: vai lá e pá, na maior cara-de-pau, e nem liga se dá errado. Eu não, eu prefiro ir na certeza. Mas, num caso desses, e principalmente porque eu nunca (vocês sabem)... Como poderia ter alguma certeza?
Quando ela chegou em São João, todos queriam ser os primeiros a se aproximar, mas nem todos também tinham coragem. E o medo de não serem bem aceitos?! Afinal de contas, em seu local de trabalho e, principalmente porque, como em toda cidade do interior, as pessoas que freqüentavam o estabelecimento, ficavam todas de orelha em pé. Só para surpreender alguém levando “um fora”. Seria assunto certo para o Bar Central!
Do seu espaço, discreto, de atendimento, ficava a despertar uma tremenda atenção. As primeiras pessoas que se aventuraram a tocá-la, timidamente claro, eram sempre observadas por uma multidão, pois, no íntimo, todos queriam fazer o mesmo.
Pior que, enquanto eu ficava olhando pra ela, a coitada nem mesmo podia retribuir o meu olhar.
Foi mesmo amor à primeira vista e eu sabia que, mais tarde, ou menos tarde, acharia coragem de chegar até ela. Até mesmo algumas dicas, por amigos, me foram passadas com antecedência, mas, quando chegava a hora H, eu simplesmente ficava gelado e passava reto.
E foi assim, por vários meses: olhando... Olhando... Olhando e... Vendo mais um dia ir embora sem nada fazer.
Outro fato que me assustava era o de ser ela bem mais jovem do que eu. Sabem como é: linguagem moderna, rapidez de raciocínio, pensamentos automáticos. E eu, por minha vez, representante de uma geração de costumes opostos... Parecia mesmo que não tinha nada a ver comigo.
Mas... Eu nunca desistia, pois minha hora, com certeza, iria chegar.
Seu jeito discreto, cada vez mais me fascinava. Também não me importava em saber que, para alguns (incapazes que se deram mal), ela tinha a fama de ser fria. Na verdade, o que ela era mesmo, era extremamente eficiente e capaz, principalmente, no seu desempenho, de resolver sozinha todos os nossos desejos, como é bem comum nos tempos modernos.
E foi assim, até que, num belo dia, ao acordar inspiradíssimo, pude sentir que era chegado o tão esperado momento. Preparei-me como nunca, e até um pequeno rascunho, com um script, levei escondido no bolso. Tudo seria válido para que não me enrolasse, um só momento, diante dela.
Desta forma, após tomar um banho relaxante, lá fui eu: tenso, mas inteiramente decidido. Teria mesmo que ser agora, pois há muito, precisava me “desafogar”. Aquela sensação de “atraso” estava até me fazendo mal. Sabem como é!!!
- È hoje ou nunca! É hoje ou nunca! - falava prá mim mesmo, enquanto caminhava em passos rápidos, pela calçada.
Era nosso primeiro encontro e nada poderia sair errado.
NA PRÓXIMA SEMANA, NÃO PERCAM: o encontro, o toque, tudo o que um jovem é capaz de fazer, ou não, num momento assim tão decisivo!

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A BUSCA DA FELICIDADE

Digital art por Overflowed

Capítulo 2 - O cérebro

Na semana passada, falamos sobre a busca da felicidade. Via livros, drogas e até mesmo como promessa de religião. Fica parecendo que a felicidade é uma experiência transcendental, que só pode ser atingida através de alguma fórmula secreta, ou de uma experiência hermética, ou mesmo por meio de um encantamento.
Uma coisa é certa, dizem: o dinheiro, se não traz, ajuda a obter felicidade. Mas como explicar, então, o fato de vivermos, hoje, num mundo com mais fartura, maior segurança e muito mais saudável, e, no entanto, com taxas elevadíssimas de casos de depressão? Como justificar o fato de, juntamente com o crescimento econômico da China, estar ocorrendo um surto de suicídios naquele país?
Se, no último censo, os agentes do IBGE perguntassem sobre o nível de felicidade, com certeza a maioria das pessoas diria que era feliz, embora, na prática, o que se vê é a infelicidade estampada nos rostos, nos gestos, nos conflitos sociais, nas famílias e por toda a parte.
No campo da Psicologia, o que se percebe são paliativos. Também poderíamos dizer no campo “das psicologias”, pois são várias as abordagens. A Neuropsicologia, por exemplo, que pesquisa a relação entre o cérebro e o comportamento humano, tenta explicar, anatomicamente, o mecanismo das emoções. De acordo com os neurocientistas, a dificuldade para se vivenciar a felicidade plena, está em nosso próprio córtex cerebral, que privilegia as funções de proteção contra o perigo, do que as do prazer propriamente dito. E isto desde que somos bebês: por exemplo, aprendemos a gostar de coisas doces (que nos deixariam, pois, felizes) e a rejeitar os demais sabores. No entanto, como funciona nossa fisiologia? Nós podemos detectar o doce, apenas na pontinha da língua (cerca de uma parte por 200), enquanto o sabor amargo, sentido na parte posterior da língua é percebido 10.000 vezes mais forte.
Ou seja, o perigo do desprazer é supervalorizado pelo nosso próprio cérebro. A tendência de “fazer uma tempestade num copo d’água” é plenamente justificada e o resultado desta luta desigual é um aumento no estresse. Esta palavra, que designa as reações físicas e mentais à percepção de fatores que nos pareçam perigosos, nem havia sido inventada quando um fisiologista americano, Walter Cannon, apresentou, em 1914, a sua teoria da “luta ou fuga”.
A coisa funciona mais ou menos assim: quando expostos a qualquer coisa que nos pareça perigosa, nosso cérebro manda sinais ao organismo, que bombardeia nosso sangue com opióides (para não sentirmos dor), estreita nossos veias (para diminuir possíveis sangramentos) e dispara nosso coração, para mandar bastante sangue para nossos membros inferiores (em caso de uma possível fuga).
Esse sistema foi construído em tempos primordiais, quando tínhamos que escapar de animais selvagens, ou mesmo caçá-los para sobreviver. E o fato de nosso cérebro “privilegiar” o perigo, permitiu que sobrevivêssemos até os dias atuais, pois, se o cérebro somente destacasse o prazer, já teríamos sido facilmente extintos pelos nossos predadores.
No entanto, a reação atual que temos ao prestar um concurso vestibular é a mesma de quando enfrentávamos uma matilha de lobos selvagens. Uma discussão doméstica, sobre um derramamento de café no tapete, gera uma preparação para a batalha, digna de uma guerra de Troia. Todo este cortisol, derramado na corrente sanguínea, certamente é superior às ameaças contemporâneas.
Ora, a conclusão que chegamos então é a de que “não dá para ser feliz”. Pois, se o nosso próprio cérebro põe uma lente de aumento sobre a infelicidade, como é que vamos fazer? E esta também é uma outra armadilha na qual estamos sempre caindo: a de achar que, quanto menos infelizes, mais felizes ficamos. E isto é uma grande mentira porque, como dizia o cronista esportivo Juarez Soares, “uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa”. Por exemplo, se você mora no Haiti e o terremoto não derruba sua casa, você fica menos infeliz, mas, certamente, está longe de ser feliz. Talvez este tenha sido um dos grandes problemas com as psicoterapias: as pessoas saem aliviadas de grande parte de suas misérias emocionais, mas acabam voltando, pois não aprendem sobre as coisas positivas, como a própria felicidade, compaixão e entusiasmo.

NA PRÓXIMA SEMANA: a essência da felicidade, reflexão final.

(Crônica: Jorge Marin)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

PRÓXIMO DISTANTE - FINAL



Oi! Vivo perguntando se vocês se lembram, Tim-tim por tim-tim, do post da semana passada? Claro, poderão dizer, estávamos falando dos incômodos provocados pelo uso compulsivo dos telefones celulares.
Aliás, se celular fosse uma coisa boa, por que é que são obrigatoriamente desligados nos aviões e nos hospitais? Eu sei que é para não interferir nas várias frequências de rádio das aeronaves e nos equipamentos wi-fi dos hospitais, mas, será que não poderiam estender esta proibição também para os açougues, igrejas e salões de beleza?
E as intimas conversas pessoais, que nos são confidenciadas compulsoriamente... Ou melhor... Empurradas ouvidos abaixo?!
Isto acontece a todo instante, seja em: esquinas, praças, velórios, festas, restaurantes, banheiros etc.etc.etc. E tudo, em alto e bom som!
Domingo passado, presenciei algo do tipo na missa.
Estávamos na consagração. De repente, fomos pegos de surpresa com a chamada de um celular. Pude observar quando uma senhora, após dar uma saidinha, foi atender seu celular. A mulher falava tão alto que, por final, os fieis já estavam olhando mais pra ela do que pro padre. Sem querer dar uma de fofoqueiro, percebi que o maridão de nossa distinta havia deixado de ir à missa, pra ficar assistindo um jogo de futebol em algum barzinho próximo a igreja. Na verdade, nossa amiga era mais uma daquelas pessoas que estavam presentes de corpo, enquanto a consciência e o espírito vagavam pelo ar.
E quando temos que interromper uma conversa, com pessoas que estão a pouco mais de um metro de distância, para dar lugar àqueles que se encontram lá nos “caixa prego”?! E tudo sem que o dito intruso venha, pelo menos, nos pedir licença!
Geralmente, ficamos com cara de bundão, enquanto esperamos novamente a nossa vez, e vemos ir embora um precioso momento. Mas, o que é pior... escutando conversa fiada dos outros... ou melhor:... somente a réplica!
Eu mesmo, certa vez, testemunhei uma dessas cenas.
Uma pessoa, que já estava há tempos esquecida num canto da calçada, e já impaciente com o final da conversa, bateu em retirada sem mesmo ser percebida.

Tempos atrás cheguei a deixar no “vácuo”, um freguês, na porta da oficina.
Tudo teria acontecido quando, minutos antes de fechar para o almoço, uma figura apareceu pedindo que eu desse um jeito em sua furadeira. Insistentemente, ficava a pedir que adiasse meu horário de almoço, para que pudesse “quebrar seu galho”.
Até que, de repente, chamou seu celular.
Sem ao menos pedir-me licença, iniciou relaxadamente um longo e descontraído bate papo. E bem em minha frente.
Já haviam se passado uns cinco minutos, e eu, simplesmente, coloquei a placa de almoço, fechei a porta e fui almoçar. O cara, provavelmente, além de nem ter percebido meu paradeiro, deverá estar me procurando até hoje.

Observe também, a fisionomia de um motorista, quando está a falar no celular:
Se estiver estacionado, tudo bem, mas, se acaso em movimento, é melhor sair da frente. “Ele não se encontra ali”
Certa vez, teve uma senhora que, após se posicionar repentinamente ao meu lado na calçada, perguntou-me se não havia me esquecido de desligar e tirar as bananas do forno. No impulso, ainda cheguei a responder: - Forno?
Só aí que fui perceber que a conversa não tinha nada a ver comigo.
Mas, de tudo isso, o que mais acho interessante é aquela famosa saidinha para atender uma chamada. Que adianta afastar o corpo, se a intimidade é propagada em alto e bom som pelo ar?
Coincidência ou não, calçadão em dia de sábado, parece casa de sogra. E, se for marinheiro de primeira viagem, aí é que a coisa piora. É como estar perdido, dentro da bolsa de valores, em dia de pregão. São torpedos, pra tudo quanto é lado, atingindo as mentes e a atenção da garotada, vinte e quatro horas por dia. É de dar inveja, a muitos tarados, lá daquelas bandas do Oriente.

ÊPA!... Algo acaba de vibrar em meu bolso! Peço licença para uma pequena pausa...

Enfim... Se for bom pra todos, quem sou eu para criticar... Ainda mais que:
Qualquer hora dessas trocarei meu tijolão.. Que vou... Eu vou!

(Crônica – Serjão Missiaggia / Adaptação – Jorge Marin)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A BUSCA DA FELICIDADE

(Digital art por Paul Duffield)

Estou escrevendo para o blog, quando um grupo de religiosos toca a campainha: pedem para deixar um folheto. Vou buscar, mais tarde, a correspondência, e lá está ele. O título é sugestivo: “Deus acabará com todo o sofrimento!” Logo numa das primeiras páginas, ilustrada com desenhos de paisagens semelhantes à Ilha da Fantasia, podemos ler vários textos bíblicos mostrando que, num futuro próximo, não haverá mais guerras, as pessoas amadas voltarão a viver, haverá alimentos para todos, não haverá mais doenças, as pessoas más desaparecerão e a justiça prevalecerá.
Leio, com o devido respeito, todas estas previsões maravilhosas, e fico me perguntando se, automaticamente, o fim do sofrimento significa a aquisição imediata da felicidade. Acho curioso que, enquanto uma religião prega o fim do sofrimento, a nossa cultura laica apregoa a busca da felicidade, a qualquer custo, o gozo imediato, e a busca de mais e mais felicidade.
Então fico dividido: o que é melhor? A cessação do sofrimento ou a busca incessante da felicidade? De um lado, o fim do sofrimento, que depende da realização de tudo aquilo que se vê no Apocalipse e que não se sabe, ao certo, quando ocorrerá. De outro, um Freud pessimista afirmando que é praticamente impossível conceber um ser humano plenamente feliz.
Na dúvida, acompanhamos a maioria e saímos correndo em busca da felicidade. Podemos começar, comprando algum livro. Se visitarmos uma livraria, real ou virtual, podemos notar que milhares de livros tratam deste assunto, sem contar os pensamentos, os hábitos, as simpatias e as receitas para ser feliz.
Outra forma, também muito popular, são as drogas, tanto as lícitas, como as ilícitas. Aliás, prefiro falar em legais e ilegais; legais aí significando aquelas que podem ser vendidas livremente. Entre estas, as bebidas alcoólicas, que estão em toda parte, desde aniversários, casamentos e batizados, até reuniões sociais e de negócios. Não se concebe um encontro com um amigo, ou um namoro, ou um churrasco, sem a inseparável cervejinha.
Não tenho nada contra. Estou apenas viajando pelas drogas legais. Continuando, temos, talvez em uma escala maior, os antidepressivos, e os tranqüilizantes. Hoje em dia, é praticamente impossível encontrar alguma família, na qual algum membro não utilize, um antidepressivo do tipo fluoxetina (Prozac) para combater a depressão, e um outro para poder dormir, normalmente clonazepam (Rivotril) ou cloxazolam (Olcadil). O engraçado é que as pessoas, mulheres em sua maioria, parecem se orgulhar de tomar alguns destes remédios. Chegam até a brigar com seus psiquiatras, pedindo a prescrição, baseadas em conselhos de amigas.
Chegamos, então, às chamadas drogas ilegais, um comércio que movimenta quase 10% da economia mundial, o mesmo que os combustíveis. Parece que, com a evolução dos costumes, mudou também o conceito de felicidade, pois, nas décadas de 60 e 70, a droga mais consumida era a maconha que, além de gerar uma dependência mais leve que o álcool, induz a um estado de tranquilidade. A partir dos anos 80 e até os dias atuais, a droga mais popular passou a ser a cocaína, tanto na forma pura, como impura (crack), que podem gerar uma síndrome de abstinência, e induzir à euforia. Podemos dizer que, antes dos anos 80, a felicidade era buscada nos alucinógenos e, depois, passou a ser procurada nos estimulantes, dos quais, aliás, faz parte também a nicotina, hoje um tanto fora de moda.
Mas, seja qual for o tipo de felicidade gerada por qualquer uma destas substâncias, é bom que se diga que esta felicidade fica na substância. Quando a pessoa interrompe o consumo, seja a droga legal ou ilegal, o efeito também cessa. E aí? Quem sabe, algum livro novo livro de autoajuda. Ou aquele folheto. Se bem que, vamos combinar, religião definitivamente não é a busca da felicidade! Se dissermos que é a busca da verdade, talvez estejamos no caminho.
NA PRÓXIMA SEMANA: o papel do cérebro na busca da felicidade.

(Crônica: Jorge Marin)

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