sexta-feira, 29 de abril de 2011

O TOQUE

Foto publicada em humornegrosemcensura.blogspot.com

Episódio 3 – Dedos Mortais, a Aniquilição (ou a Inoculação?)

Na semana passada, se bem recordam, a coisa tava feia: o intrépido Juraci estava entalado na porta da clínica, e a “fila da morte” foi interrompida. Nada entrava, mas nada mesmo! Meio que plagiando, ao contrário, aquela música do Chico Buarque com o Dominguinhos, poderíamos dizer que isto aqui ta ruim demais: olha, quem ta fora, não quer entrar, e quem ta dentro, quer sair... correndo.
E, por falar em música, teve uma sensacional. Não é que, lá pelas tantas, sai lá de dentro um sujeito, bem gozador, morador do Taru, mancando? E, o que é pior, com uma das mãos no traseiro! Pensam que acabou? Nada disso: o cara passou se arrastando junto à fila de apavorados e, de quebra, ia cantando aquela musiquinha de final de ano da Globo. “Quero ver você não chorar, não olhar pra trás, e se arrepender do que faz.” É mole?
Nesta hora, teve gente andando de marcha à ré, que nem mula empacada. Também não seria por menos! Se pensarmos bem, nosso amigo brincalhão pegou mesmo pesado com a galera, pois naquela altura do campeonato, o desespero e o arrependimento já começavam a tomar conta dos mais sensíveis. Pra vocês terem uma idéia, um grupinho, despistadamente, chegou até a começar a descer de costas alguns degraus. A intenção era mesmo, se mandar dali. Outros ficaram estáticos. Sequer piscavam os olhos diante do tal sujeito que insistia em ficar num constante vai e vem gemendo, mancando sem parar, e cantando aquela bendita musiquinha.
Nesta hora, e antes que a debandada fosse geral, sai uma enfermeira, ou assistente social, ou psicóloga (não sei bem) e tenta acalmar os histéricos fazendo o contrário, ou seja, tentando convencê-los de que, pior que a dedada é o câncer. Explica que o da próstata é a terceira causa de morte, depois do câncer de pulmão e do cólon. Fala também que é um tumor raro antes dos 50 anos, mas que, após esta idade, sua incidência duplica a cada década de vida.
Aí, a coisa piorou. Todos começaram a fazer as contas: eu tenho 65, me resta quanto tempo, doutora? Ela explica que o risco de um homem, durante toda a vida, ter este tipo de câncer é de 30%, o risco de ter que operar é 10%, e a chance de morrer disto é só de 3%. A boa notícia, continuou ela, é que cerca de 90% dos tumores são clinicamente desprezíveis.
A má todos nós já sabemos, retrucou o Juraci, é que, para diferenciar entre o tumor brabo, do tumor “desprezível” (usando as palavras da moça), é só deixando o doutor, como é que se diz, massagear nossa próstata. Ai, ai.
Chegaram a chamar a polícia para dar um jeito no assanhado taruense, mas, já era tarde demais: sem saber que aquela encenação não passava de uma brincadeira, já tinha gente virando a esquina da Força e Luz.
Juraci, por sua vez, com aquele imenso jornal de cabeça para baixo, nem percebeu a brincadeira, e muito menos viu o tal sujeito passar. Acredito ter levado a sério aquele velho ditado que diz: “O que os olhos não vêem, o curação não sente”. Não se assustem: a grafia está correta.
A moça voltou para dentro da repartição, e os “condenados” voltaram à sua maldição: morrer de câncer ou de vergonha.
Na próxima semana, não percam o final desta história, com muita emoção e aperto, muitos apertos, com direito à fuga e ao sacrifício, pasmem, de um curió. Não percam!

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptção: Jorge Marin)

quinta-feira, 28 de abril de 2011

PARABÉNS PRA VOCÊS PRA NÓS! DOIS_ANOOOOOOOOOOS!!!

Arte digital por Passion

Interessante como as coisas passaram assim tão rápido.
Parece que foi ontem mesmo que tudo começou.
Difícil acreditar que esta simples brincadeira, que vem tentando, a cada postagem, fazer do lúgubre, uma mera palavra do dicionário, e que, da mesma forma, se tornou um descontraído passatempo para muitos, está agora comemorando seus dois anos de vida. Sem contar que, de presente de aniversário, atingimos a marca de 24.000 acessos.
Neste período, nada foi mais gratificante do que os constantes e variados contatos que foram a nós dirigidos, principalmente por aqueles amigos que estavam longe da terrinha. Todos eles com elogios sinceros, que vieram, muitas vezes, acompanhados por agradecimentos, em razão de estarmos proporcionado a eles momentos de descontração e alegria. Desta forma, tão bem se expressou um de nossos seguidores: “FOI ATRAVÉS DESTE INOCENTE BLOG QUE REDESCOBRI QUE O MUNDO AINDA PODERIA GIRAR UM POUCO MAIS DEVAGAR”.
E assim, como o nascimento de uma criança, onde o prazer e a alegria sempre superam qualquer obstáculo, e ao contrário do que muitos possam pensar, foi também um longo e cansativo caminho a ser percorrido.
Então, tentarei de uma maneira um tanto lúdica, como muitas vezes lúdico vem sendo nosso Blog, contar pra vocês como tudo começou:

Era uma vez uma semente que estava à procura de um solo em que pudesse fecundar a sua idéia.
Mas, não poderia ser um solo qualquer, pois esta ideia era algo que estava sendo sonhado há um bom tempo. Tudo teria que ser pensado com muito carinho, pois, dependendo do solo em que iria cair, poderia nem mesmo vingar. Teria que ser, antes de tudo, um solo totalmente imune às pragas da vaidade, inveja e, principalmente, inacessível a competições doentias e imaginárias.
Esta procura durou algum tempo, até que a lembrança faria com que esta semente viesse descobrir o que tanto procurava.
E assim, estava dado o primeiro passo, ou seja, o de ter encontrado um solo confiável que, adubado de uma generosa dose de inteligência e senso de humor, iria com certeza, acolher e nutrir aquela ideia e fazê-la germinar.
E não deu outra!
Mas, como único obstáculo, ainda existia a distância que os separava.
Como poderia a ideia germinar? Afinal de contas, eram muitas as informações que teriam que ser trocadas e muito a ser combinado.
Foi quando, diante daquele velho ditado em que diz: “SE O SENTIMENTO É PURO E AS INTENÇOES SÃO AS MELHORES, TUDO IRÁ CONSPIRAR A SEU FAVOR”, e nas asas de um vento chamado Internet, que esta semente pra longe viajou, e rapidinho germinou.
Sinceramente, confesso que me assustei com a receptividade coma qual este solo veio a acolher esta pequena semente. Graças a ele, tudo aconteceu muito além do que se pudesse imaginar. Também, como poderia deixar de germinar e tão bem desenvolver uma ideia, que, desde o seu nascimento, foi sendo suprida por este solo que lhe fornece, diariamente, doses maciças de Tempo, Carinho, Humor, Inteligência, Criatividade e tudo mais? Isso pra não falar dos muitos amigos, que, ao longo desta caminhada, foram SEGUINDO E COMENTANDO, com muito interesse e expectativa, cada novidade.
Hoje, com muito orgulho, vemos que esta pequena semente, de fato, germinou, e que agora, regada por mais de 24.000 mil visitas, vai, a cada dia, se solidificando e tentando consolidar de vez seu amadurecimento.
Valeu, Jorge Marin! Ao Futuro e Além!

Então, a todos os amigos seguidores, comentaristas, parceiros e colaboradores, envio, pela segunda vez, meus mais sinceros agradecimentos. Cada um de vocês será sempre a razão principal da continuidade e sucesso do Blog.
Serjão Missiaggia

quarta-feira, 27 de abril de 2011

TÔ CANSADO!!!

Arte digital por Luanne Gasilla

Tem sido um tempo de estrelas cadentes. Às vezes, vou à janela, e vejo todas aquelas luzes. E fico pensando: vale a pena fazer um desejo? São tantos os desejos que poderiam ser feitos que, talvez, não houvesse tantos objetos de desejo disponíveis.
Volto para a inevitável televisão, falam da Era de Aquário, e chovem expressões como “equinócio vernal”, “zodíaco intelectual” ou “grande ano sideral”. Querem saber? Acho que envelheci de vez. Pois, se há uns quarenta anos atrás, este papo me interessava, hoje eu estou absolutamente cansado: não suporto mais essa conversa fiada de new age, de espíritos, gnomos, elementais e astrais. Não consigo sequer passar em frente a uma livraria com aqueles compêndios de autoajuda, bem como estou absolutamente enjoado destes livros de gurus, padres, médiuns e técnicos bem sucedidos.
Parece que, nos dias de hoje, tem um manual pra tudo. Quer ser bem sucedido no amor? Temos trocentos livros explicando, desde a arte de seduzir, até como dar presentes, como falar palavras doces depois do orgasmo, como superar a monotonia, como encontrar sua alma gêmea e até um DVD do Kama Sutra com trilha sonora da Lady Gaga.
Ranzinza, rabugento. Acho que estas são as características que tanto apliquei ao meu avô, e que agora estou incorporando. Mas, não sei se é uma coisa só minha. Alguns de vocês também não suportam mais ouvir estas notícias sobre políticos corruptos? Ou escutar estas análises de “especialistas” falando sobre homicidas e pedófilos? Poxa, a gente é obrigado a assistir a uma barbaridade do tipo ocorrido há duas semanas, naquela escola do Rio. Depois, vem um “especialista” explicar o motivo daquela ocorrência: diz que o assassino veio de um lar desagregado, que era maltratado na infância e, pasmem, explicando como funcionava a mente do atirador. Ora, como é que um psiquiatra pode saber como funcionava a mente daquela pessoa? Ele não deve saber nem como funciona a própria mente. E mais: pra que é que eu quero saber uma coisa dessas? É ou não é unir o inútil ao desagradável?
A verdade é que estamos perdendo o contato com a natureza. Coisas como contemplar a lua, ou namorar na praça, ou mesmo bater papo na beira do córrego estão totalmente fora do contexto. Com isto, vamos nos intelectualizando cada vez mais. Vamos tendo necessidade dessas “explicações” fajutas, que podem até estar corretas de acordo com o discurso no qual estão baseadas, mas são dispensáveis, desnecessárias e inoportunas.
Quando temos oportunidade de observar o por do sol numa praia, ou um amanhecer num dia de inverno, ou o brilho do olhar de alguma pessoa na rua, ou o movimento e o cantar de um pássaro, não se trata absolutamente de romantismo, mas de uma educação para o olhar, e também para a audição.
Porque, por incrível que pareça, acabamos perdendo estas habilidades tão primárias, e tão necessárias ao convívio. Para assistir a um por do sol na praia, por exemplo, só com algumas cervejas na cabeça. E é preciso reaprender esta arte, esta contemplar-te! Pois estamos perdendo a habilidade de contemplar as coisas da forma que elas são. Quando vemos uma árvore, por exemplo, vemos uma palavra, que pode ser “árvore” mesmo ou “figueira”, mas nunca a coisa em si, a entidade com seiva, galhos, raízes e vida.
Uma vez eu ouvi uma história de um mestre que costumava falar a cada manhã para os seus discípulos, que escutavam, maravilhadas, aqueles ensinamentos. Certo dia, quando o mestre já ia iniciar seu discurso, entrou pela janela, um passarinho e cantou a plenos pulmões. E cantou, e cantou muito mesmo. Até que, cansado, saiu voando pela janela. O velho mestre levantou-se e disse: “bem, o sermão desta manhã acabou!”
Amanhã é aniversário do blog. São dois anos sentados por aqui, ouvindo algum passarinho cantar. Obrigado pela companhia.

(Crônica: Jorge Marin)

sexta-feira, 22 de abril de 2011

O TOQUE

Frame do filme "Freud além da alma" extraído do Blog do Kley

Episódio 2 – A Sociedade do Anel

Na semana passada, sei que muitos se lembram (porque a primeira vez ninguém esquece), estávamos numa cena que nada deixava a dever ao famoso Inferno de Dante. Era como se, na placa do CEASM, estivesse estampada aquela terrível frase “Percam todas as esperanças, vós que entrais. Estamos todos no inferno.”
Voltemos então àquela cena: era uma fila de mais ou menos setenta pessoas. Até o Froide (lembram?), aquele mesmo do jogo do bicho, estava lá. E bem atrás do Juraci.
Com seu famoso “broquinho” de papel, ficava percorrendo a imensa fila, sempre à procura de possíveis apostadores. Se bem conheço o Froidão, seu comportamento estava mais para desespero do que, propriamente, para vontade de ganhar dinheiro.
Com raras exceções, todos estavam impecavelmente vestidos. Num sol de quase quarenta graus, pareciam estar numa recepção de casamento, aguardando somente o momento de cumprimentar a noiva.
Todos cheirosos. Quando passei próximo a eles é que pude sentir uma variedade enorme de perfumes. O local ao redor estava contagiado de inúmeras fragrâncias.
Segundo informações, todos que ali estavam eram marinheiros de primeira viagem.
Sendo assim, teve até um famoso apicultor da cidade que, mesmo ficando quase que o dia inteiro naquela imensa fila, não desagarrava, um só momento, de uma sinistra sacola. Segundo disseram, ali se encontravam dois litros de mel. Ao ser questionado, disse apenas que se tratava de um pequeno mimo para um dos médicos. Deixo a pergunta: teria sido desespero de causa? Propaganda do produto? Ou más intenções?
Mas, deixemos de lado nosso amigo da colmeia, e voltemos ao Juraci: como já havia dito anteriormente, eu nunca o havia visto lendo jornal. Pois, naquele dia, estava!!! E de cabeça pra baixo...
Quando retornei da padaria, é que pude observá-lo com mais calma, pois naquele momento, ele já havia atingido o interior da varanda e quase adentrava a temida porta da sala. Puxava um pequeno grupo, de mais ou menos umas oito ou nove pessoas.
Esta turma, que já havia alcançado com ele a varanda, mais parecia um monte de ovelhas acuadas e assustadas. Passavam a sensação de estarem presos num cercadinho a espera da tosquia. Não passava nem um alfinete, se é que vocês me entendem.
Enquanto isso Froide, num incansável vai e vem, e com o bendito “broquinho” na mão, não parava um instante sequer de subir e descer aquela imensa fila. Tentava falar do procedimento, achando que, se falasse naturalmente da “coisa”, ia facilitar. Não foi o que aconteceu. Todo mundo, quase que em coro, gritou: “não explica Froide; não, Froide!” E o bicheiro, finalmente, botou o bloquinho de apostas no bolso.
Juraci, então, não largava um só minuto do jornal. Insistia em ficar com aquele papel suado, totalmente aberto, bem em frente ao nariz. Pra ser sincero, até então eu achava que ele nem sabia ler.
Em seu estupor, e de forma totalmente inconsciente, nosso amigo acabou causando um tremendo tumulto na portaria, pois, além de esconder, de certa forma, o rosto, estava também obstruindo a porta de entrada. Ninguém entrava... Ninguém, muito menos, saía, pois o Juraci nem se deu conta que aqueles seus braços abertos, feito uma xícara, eram bem mais largos que a própria porta.
Segundo meus mais profundos estudos, concluo que se tratava de uma reação de defesa e de rejeição. Como alguém que não quisesse, por nada neste mundo, entrar pela aquela porta. Enfim, ele estava lá dentro: e agora, Juraci?
Não percam, na próxima semana, o estropiado de Taru, e a primeira visão dos “dedos mortais”, a aniquilação.

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

A PÁSCOA NOSSA DE CADA DIA

Arte digital de Michael Vincent Manalo

A caminho da escola, meu filho resolve me dar algumas lições sobre a páscoa. Já não me espanto; afinal, no primeiro ano do ensino fundamental, ele está tendo aulas de Filosofia. “Pai”, diz ele, “esse negócio de páscoa não é só ovo e coelhinho não: páscoa é pra comemorar a ressurreição de Jesus, ele morreu e voltou, sabe?”
Explico que morrer faz parte do processo da vida pois, para vivermos plenamente no presente, é preciso morrer para o passado, e cito o exemplo daquele bebê que ele era, digo que ele morreu para que pudesse surgir esse rapaz (ele só admite, aos cinco anos, ser chamado de “rapaz”) inteligente, bonito e mestre do videogame.
Infelizmente, nossa discussão é interrompida pelo Coelhinho da Páscoa que está, naquele momento, visitando a escola e, eventualmente, fazendo propaganda de um shopping da cidade.
Na volta para casa, fiquei imaginando sobre o tanto de energia e afeto que é gasto sobre este tema da morte. Sempre uma coisa ao lado da outra: a morte e o ser com medo de encontrá-la. Ela, sempre presente, e a pessoa tentando esquecê-la, adiá-la, negá-la ou até mesmo suavizá-la. Quantas esperanças e quantas teorias: uns acreditam na reencarnação, outros na ressurreição. Há quem fale em espírito, alma e até mesmo recorra àquele ser supremo que vive fora do tempo e recebe muitos nomes, e é invocado em diferentes templos.
Na prática, entretanto, pouca gente – se houve – foi capaz de encarar uma alma, ou um espírito desencarnado, apto a esclarecer os mistérios do pós-morte. Muita coisa foi escrita, é verdade, mas são idéias, conceitos, que são transmitidos e, que para ter validade, demandam fé. O fato é que, como qualquer idéia que passa pela nossa cabeça, também estas teorias não são permanentes. Aliás, nada que passa pelo campo da mente, é definitivo.
Aí eu fico pensando: estamos entrando, e de forma rápida, no século XXI a fora, e passamos uma enorme parte da nossa vida nos preocupando com o desconhecido. Morte é uma palavra, que evoca medo de perda, medo de dissolução. Mas, como ninguém pode, de forma objetiva, dizer nada a respeito da tal experiência, ela permanece assim, desconhecida. E, da mesma forma, que ensinamos às nossas crianças a não ter medo do desconhecido, não faz sentido passar a vida, ou perder o precioso tempo da vida, inventando desculpas, criando expectativas, elaborando teorias salvacionistas.
E o pior é que, enquanto nos ocupamos do desconhecido, negligenciamos, ou não sobra tempo mesmo, para o conhecido: sobre como viver nossas vidas. Como vivê-la de forma leve, bela e útil. E, por não saber viver a vida de forma apropriada, temos tanto medo da morte. Parece que a questão não é saber se há vida após a morte, mas sim antes.
Quando tentei explicar ao meu filho sobre o processo de morte e renascimento, o que eu quis dizer é que a vida não pode ser exercida ao mesmo tempo em que nos ocupamos com os arrependimentos do passado, ou com a fantasia do futuro. Se não vivemos o presente, podem crer que já estamos mortos. Porque, para acompanhar o movimento da vida, é preciso morrer para a memória. E, quando morremos para as lembranças, mesmo as boas, somos, de novo, meninos, com toda a purificação e toda a inocência que esta transformação traz.
Vejam, não estou falando em negação, mas em esvaziamento da mente, em eliminar a preocupação com uma realidade inevitável, e em ressuscitar todo dia, ao acordar, sabendo que a tal páscoa é a passagem. Uma passagem de ida, uma passagem ao ato, um passe livre para a saborosa aventura de viver.

(Crônica: Jorge Marin)

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O TOQUE

Foto do site www.saassinhora.wordpress.com

Capítulo 1 - Dá-lhe, Juraci!

E lá estava ele! Numa imensa fila, num sol escaldante, bem em frente aos correios e já quase virando a esquina.
Deveriam ser, mais ou menos, umas quatro da tarde e eu, nesta hora, me dirigindo à padaria, fiquei um tanto intrigado.
Aquela cena chamou-me muito à atenção, pois, de início, não sabia bem do que se tratava. No momento, a única coisa da qual tinha certeza era que aquela fila enorme teria, como ponto final, o CEASM (Centro de Atendimento à Saúde da Mulher).
De qualquer forma, era uma visão um tanto confusa, onde um amontoado de homens que, na sua maioria beirando seus sessenta e poucos anos, pareciam estar no corredor da morte. Algo assim como: prisioneiros de guerra caminhando para a câmara de gás.
Na verdade, aquela cena muito me intrigou!
Dessa forma, ao chegar à padaria, procurei, de imediato, ir me inteirando do assunto, para descobrir o que realmente se passava.
Foi quando tomei conhecimento de que se tratava de uma campanha organizada pela secretaria municipal de saúde, com foco total naquele dia. Para ser mais preciso, o objetivo da campanha era a prevenção de doenças masculinas.
Bom, os fatos até então apresentados ainda não justificavam aqueles semblantes carregados, as fisionomias tensas e o silêncio sepulcral na fila.
Compreendi que tudo aquilo se constituía numa grande novidade para a maioria daqueles homens, pois um exame dessa natureza era até então inédito na cidade, ainda mais se tratando de uma mobilização em massa.
Mas o ineditismo e a ansiedade pelo novo ainda não justificavam todo aquele choro e ranger de dentes.
Fui conferir no local: a maioria não queria saber de conversa e, muito a contragosto, revelaram que já haviam feito o exame de sangue na policlínica. Restava então, e eis que os meus olhos se abriram para a luz, o fatídico momento: “é... o toque retal!”, alguém sussurrou baixinho. E, me puxando pelo braço, falou quase colado ao meu ouvido: “sabe como é, né moço, o exame da ‘prosta’.” A forma simples com a qual aquele homem me contou a novidade, e a sua voz entrecortada, me partiram o coração e eu, talvez numa reação inconsciente, atravessei a rua, sem olhar, e fiquei do outro lado, com as costas voltadas para a parede, como a dizer: “sartei de banda.”
Confesso-me envergonhado de tal comportamento, mas, sei lá, há tantas reações automáticas em nosso corpo. Instinto de sobrevivência? Desculpem, mas sou um homem do século passado, e ainda não estou totalmente aberto às novas tecnologias. Fiquei, lá do outro lado, só olhando.
Lá estavam nossos heróis, milimetricamente perfilados na calçada. Posicionavam-se como se estivessem a se esconder, ainda que não de forma intencional, uns atrás dos outros.
E lá estava o Juraci! Meninos, eu vi. Que tava, tava!!! Pessoa muito boa que, por sinal, tem, como único defeito - se é que podemos chamar isto de defeito - ser um sujeito extremamente machista.
Para vocês terem uma idéia, certa vez, uma septicemia quase o levou a óbito, simplesmente, porque o bravo sanjoanense não permitiu que um profissional lhe espremesse um furúnculo na bunda.
Dá para acreditar que, em pleno século vinte e um, ainda exista alguém que quase vai dessa para melhor, só por causa de um cabelo inflamado no traseiro? Pois o Juraci quase foi. Creio que vocês, agora, já devam estar compreendendo os motivos, e a importância das minhas observações.
A fila andou. E agora? O medo, o dedo, e a dor. Não percam, na próxima semana, a sequência deste fatídico holocausto.

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

quarta-feira, 13 de abril de 2011

AMOR NOS TEMPOS DE WEB

Arte digital por Julia Dresch

Vivíamos como se fosse só hoje e amávamos como se não houvesse amanhã. Havia uma confusão muito grande sobre a lei de Deus e a lei dos homens. No nosso tempo, a lei dos homens era implacável, mais até do que a lei de Deus vigente na época. Tentávamos, a todo custo, nos destacar: posávamos de roqueiros, pintores, atores, jornalistas e conspiradores. Era difícil imaginar onde começava a fantasia ou onde terminava a realidade, já que estávamos, quase sempre, viajando. Na maioria das vezes, não era uma viagem alucinógena, mas sim alucinada. Mais do que um voo, era um mergulho. Na vida, de cabeça. E tudo aquilo parecia não ter fim: como num carnaval perene, agendávamos intermináveis programas e invadíamos as praças, os bares e alguns jardins. Não havia chuva que nos detivesse: pelo contrário, animados pela tempestade, namorávamos sob as marquises, jogávamos futebol na lama e balançávamos os galhos das árvores para molhar os que passavam.
Às vezes, perguntamos: era melhor? Absolutamente, não. Era diferente. Moldados que éramos, por uma cultura menos competitiva, menos narcísica e mais autoritária, acostumamo-nos a respeitar, interagir e obedecer às regras. Mas, da mesma forma que os jovens dos dias atuais, adotávamos posturas desafiadoras, linguagem obscena e atitudes subversivas. Nossos pais diziam: não sei onde essa juventude vai parar.
Aí fundamos isto que está aí: a mesma sociedade dos nossos pais, um pouco menos hipócrita e mais cínica, mais liberal e mais egoísta, mais sofisticada e menos acessível, e, definitivamente, menos poética, embora eu não possa dizer, ao certo, se esta última característica é boa ou ruim.
Quando expresso esta desconfiança em relação à poesia, é porque esta me remete a uma instituição muito em moda, naqueles tempos, chamada amor romântico, hoje ausente até da novela das seis. Amávamos e, às vezes, a pessoa amada nem sabia. Era uma proposta assim meio utópica, de aliar emoções com sentimentos, tesão com carinho, possessividade com preocupação, ciúme com cuidado, e rivalidade com devoção. Na verdade, o amor romântico foi inventado, assim como a roda, ou o espartilho, pela sociedade interessada em reprimir a sexualidade e exaltar a família nuclear e conjugal.
Engraçado é que a gente fala assim, num jargão sociológico, e a coisa parece meio árida, mas, como diz o mineirinho, o trem era bão mesmo, sô! Segundo o psicanalista Jurandir Freire Costa, “o amor era um ideal de auto-realização afetiva que acenava para um tipo de felicidade no qual o êxtase da dissolução no outro era compatível com a consciência da individualização do desejo.” Logicamente, a coisa não funcionava na prática. Mas, era (e ainda é hoje) interessante esta tentativa de tentar viver um sonho, a despeito de todas as dificuldades que a realidade moderna impõe.
Pois foi justamente este componente de sonho, este romantismo, o que foi deletado na teia de relações amorosas dos nossos dias. Isto é, não completamente deletado, pois, dentro das redes sociais (Orkut, Facebook e outros), o que mais se lê, são juras e juras de amor. Só que, com a intensa e veloz rotatividade dos casais, este conteúdo acaba esvaziado e sem sentido.
Vejam! Não estou dizendo que tudo isto é ruim ou pior. São novos tempos, novas tribos, novos sujeitos e, portanto, novas emoções. Há uma tendência em classificar o amor apenas como uma emoção, ou seja, intenso e provisório. A maioria das pessoas tem medo de tentar viver a felicidade emocional, buscando realizar o ideal impossível prometido pelo amor romântico.
Como dizia o John Lennon, “você pode dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único.” Mas, ao contrário dele, eu não espero nada de ninguém. Por isso, vivo.

(Crônica: Jorge Marin)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

GUARDIÕES DO LARGO DA MATRIZ

Foto por Nikitas Michalakis

Na semana passada, três irmãos exerciam cuidadosa vigilância sobre as pessoas que iam para as missas.
Mas, o que ocorria enquanto essas aconteciam? Isto é, nos intervalos entre as subidas e descidas dos transeuntes?
Se for domingo, possivelmente alguém irá assistir ao começo do Fantástico ou ao programa do Sílvio Santos (não se pode esquecer que é dia de conferir a telessena). Esta pessoa dará uma breve sentadinha na poltrona, tomará uma xícara de chá, ou aproveitará aquele espaço de tempo para tomar o comprimidinho da noite. Tudo muito rápido, pois logo logo terá que retornar ao seu posto, em circunstância do final da missa.
A outra irmã se sentará próxima a alguma mesa de centro e continuará aquela interminável colcha de crochê. Também irá assistir ao início do Fantástico, sem deixar, porém, que o Bolinha deite ao seu lado. Algo me diz que ela não gosta de cachorro na poltrona.
O Senhor Josué, com certeza, irá dar uma breve ligadinha no seu rádio. Aquele velho rádio, a válvula, que, devido às variações das ondas sonoras, fica num constante vai e vem de sinal. Este rádio deverá estar em uma daquelas cantoneiras, pregada em algum lugar da parede, num canto qualquer da casa.
Bolinha, mais do que depressa, irá correr para algum tapete que, bem quentinho, se encontra próximo à televisão. Ficará tirando um cochilo, ao lado de seu pratinho de leite e aos pés de uma das irmãs. A que está vendo o Fantástico – é claro!
Final da missa. E todos se apresentam novamente na varanda.
Como um balé milimetricamente bem ensaiado, começam a se reposicionar para as considerações finais.
Sabem de uma coisa? Até de um joguinho básico, cheguei a suspeitar. Para quem não tem muito o que fazer, uma apostazinha iria bem. Algo assim como: vamos apostar se o fulano de tal virá... Se se atrasará... Se a cor da roupa será mesma... Que tipo de trajes usará... E, até mesmo, o nível de frequência daquela missa.
Na verdade, confesso nunca ter observado qualquer tipo de movimentação, mas, que existe alguma coisa suspeita no ar, isto existe! Um dia, hei de provar.
O irmão me confessou, certa vez, que estava quase cego. Operou ambos os olhos, devido a um deslocamento de retina. De antemão, sabendo que cachorro não fala, desconfio que alguma de suas irmãs fica a narrar cada movimentação que acontece.
Fico apreensivo, imaginando como deverá ser na semana de exposição, pois é uma semana inteira, subindo e descendo gente, sem parar.
Possivelmente, colocam em prática uma já bem combinada escala de observação.
Acredito que poderá ser de duas em duas horas, pois, do contrário, não haverá artrose que aguente.
Domingo passado, não resistindo à curiosidade, sentei, após o término da missa, num dos bancos da praça. Um que fica bem em frente à varanda, pois queria estudar, com mais detalhes, aquela fantástica rotina. Observei que, ao retornarem aos seus postos, uma das irmãs se atrasou. Mas, é claro!!! É a hora de começar o jantar.
Em seguida, após todas as pessoas e carros descerem, constatei que a outra irmã, naturalmente a que enxerga melhor, ficou esticando o pescoço para o lado da igreja.
Coincidência ou não, imediatamente, todos começaram a entrar.
Dando uma olhadinha para trás, pude perceber que, somente quando todas as luzes da igreja são apagadas, é que eles realmente se certificam de que não descerá mais ninguém.
Senhor Josué, após receber o sinal, que foi dado pela irmã, coloca o cachorro no chão e também começa a se recolher. Não sem antes retirar, dobrar e guardar uma pequena toalha que, esticada no parapeito, servia de estofado para o Bolinha.
O dia em que um deles faltar, provavelmente será devido a alguma virose. Sabem como é: idoso, quando pega uma dessas viroses, se abate bem.
Para finalizar, tenho quase certeza de que, após o encerramento de cada movimentação, irão para a cozinha. Lá, será servida uma deliciosa sopinha de legumes ou uma canjinha de galinha. Depois, é só pitar aquele cigarrinho de palha e aguardar a próxima missa.

(Crônica: Serjão Missiaggia)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

GODARD E A FALTA DE AR

Foto de Alba Valéria Mendonça para o Portal G1

Recebo, do meu amigo Brandão, indicação para um vídeo de Jean-Luc Godard no YouTube, chamado “Je vous saloue Sarajevo” (http://www.youtube.com/watch?v=LU7-o7OKuDg&feature=fvsr). Nele, uma frase martela, ou martiriza, nossa atenção: “cultura é a regra, e arte, a exceção”. Todos leem, respiram, transpiram cultura. Pois, ela é simplesmente tudo o que nos cerca: laptops, news, bbb, novelas, e fitness, entre outras. Pior do que cercar, a cultura nos intima: temos que saber, temos que estar antenados. Vai cair no vestibular! Você não conhece o I-pad 2?
Aí vem um colega e diz: não sei o que está acontecendo, o tempo está passando tão depressa. Meu Deus, já estamos em abril! Quando é que isto vai parar? Não tenho tempo pra nada! E leva os filhos pro balé, e pra informática, e para a capoeira, judô, natação, para o shopping e para o pediatra e para o psicólogo especialista em fobia de bullying. Vem a mulher e faz um lifting, uma lipoescultura (ex-cultura?), mais peeling, bottox e quetais. Enquanto ficamos aqui, na Net, no note, no Orkut, no Facebook, no Twiter, no Skype. Ou vamos pra night, pro lounge, para a steak house, ou sushi, ou assistir à pole dance e, com sorte, até a lap.
É... cultura é a regra. E, mais do que a regra, é a prega, ou a praga, ou a droga que nos estimula. A cultura é a panaceia compulsória de que não precisamos, mas continuamos tomando. Sabem aquele “remedinho pra dormir” que o psiquiatra receita para a tia e todo mundo em casa toma, só porque não faz mal e é “fraquinho”? Pois é, a cultura é mais ou menos assim: uma coisa que você não pode deixar de consumir, que não serve pra nada, mas é imprescindível. Véi! Você nunca fez pilates? Não depilou a laser? Não leu o último livro do padre?
Aí vem esse louco desse Drummond... Sim, porque só um louco pra querer fazer arte, porque esta, como o velho mestre Godard disse: é exceção. E não venham dizer que o Drummond dizIA (só porque ele morreu). Primeiro, porque ele, sob o código artístico, não morreu. E continua tendo seus óculos roubados, toda semana, na praia de Copacabana. Em segundo lugar, porque a arte nunca é dita (quando muito, é mal dita). Ela é escrita, ela é composta, ela é pintada, filmada ou é vivida. E se torna, portanto, arte de viver.
Mas como eu, que não sou artista, dizia, vem o Drummond, e numa poesia escalafobética, chamada Ao Deus Kom Unik Assão, escreve: “e, quando não restar o mínimo ponto a ser detectado, a ser invadido, a ser consumido, e todos os seres se atomizarem na supermensagem do supervácuo, e todas as coisas se apagarem no circuito global, e o Meio deixar de ser Fim e chegar ao fim, Senhor! Senhor! Quem vos salvará de vossa própria, de vossa terríbil estremendona incomunikhassão?”
Fica, então, esse mensagem godárdica (não confundir com catártica): a regra quer a morte da exceção. Portanto, essa falta de tempo, de dinheiro e até de alma (desânimo), não é acidental, nem corriqueira. Essa falta é intencional. Alguém aí já viu como é feito o foie gras? Um cara pega o ganso, do qual será retirado o fígado para o patê, e chucha (calma, é com ch mesmo) quilos de maisena com gordura de porco pela goela abaixo. O ganso, coitado, absorve tudo – e como absorve – como parte do sistema em que vive, e morre.
Portanto, amiguinhos, que a Paz esteja com vocês! E... olho no fígado!

(Crônica: Jorge Marin)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

GUARDIÕES DO LARGO DA MATRIZ

Arte digital por Szandor DuBois

Já há algum tempo, minha atenção vem sendo despertada por uma visão que, no mínimo, acho demasiadamente interessante. Coisas do interior. Algo assim, como: romântico, contemporâneo, mineirês, sublime e, principalmente, raro.
Não há uma única vez que, ao subirmos o morro da igreja em horários de missa, não nos deixamos envolver com certa imagem.
Três idosos e um cachorro.
Na varanda de uma pequena casa, ficam a observar todos que ali passam.
Mais precisamente: duas senhoras, um senhor e um cachorrinho (aparentemente um daqueles dóceis vira-latas).
Faça chuva ou faça sol, lá estão eles, em seus postos de observação.
Ficam numa casinha que, se não me falha a memória, de numero 70 bem à direita de quem sobe mais precisamente ali, na Rua Coronel Furtado de Medeiros, já bem próxima ao jardim da igreja.
Três irmãos solteirões. Duas senhoras e um senhor.
Sempre nas mesmas posições, como em um balé inconscientemente bem ensaiado.
O senhor, de nome Josué, é um conhecido meu. As duas senhoras e o cachorro ainda não tive o prazer de conhecer.
Segue, então, a escalação com respectivas posições: no parapeito da referida varanda, começando pela lateral direita, se posiciona sempre o senhor Josué. Logo a seguir, pela lateral esquerda, uma de suas irmãs. O centro é lugar cativo da outra irmã. O cachorro fica com a irmã que se posiciona à esquerda, mas, não raramente, poderemos vê-lo também à direita, com o senhor Josué.
Cada um com suas respectivas almofadinhas, na qual apoiam os braços no parapeito da varanda.
Assim, daquela rústica moradia, ficam a certa distância, a observar todos que por ali passam.
A cada celebração dominical, casamentos, batizados e outras festividades, lá estão perfilados e posicionados, aguardando, talvez, aquela que seja, para eles, a maior de todas as distrações.
Começam a nos acompanhar, possivelmente, desde onde suas cansadas visões nos alcançam, até quase entrarmos na igreja.
De minha parte, como não poderia deixar de ser, me interessei, sensivelmente, com aquela cena. Comecei a analisar, carinhosamente, cada passo e costumes, desta já quase que extinta família.
De imediato, devido aos meus atrasos dominicais (diga-se de passagem, um tanto costumeiros), pude, de certa forma, fazer minhas primeiras observações.
De imediato, reparei que seguem, rigorosamente, horários pré-estabelecidos.
Numa precisão britânica, ficam num incansável entra e sai, que vai se repetindo a cada movimento dos transeuntes no subir e descer de morro. Quem quiser vê-los, favor ser pontual, pois, do contrário, lá não mais estarão.
Fico também imaginando a rotina desta interessante família: ao badalar do sino, todos se apresentam, mais que depressa, na varanda. Quem sabe, até já não exista uma antecipada escala de observação? Poderá ser por ordem alfabética, ou mesmo de posicionamento no parapeito.
Previamente, deverá haver também uma votação para saber quem ficará, naquele dia, segurando o Bolinha. Só pode ser Bolinha. Não imagino outro nome que possa ter aquele cãozinho branco! Quem sabe... Totó? Talvez!
Não posso deixar de acreditar, também, que uma previsão antecipada, não rola nos bastidores!!! Como, por exemplo, quantos automóveis deverão subir naquela noite? E muitos outros itens inimagináveis.
(continua)

(Crônica: Serjão Missiaggia)

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL