O PRINCÍPIO DO INÍCIO (PRIMEIRA CRÔNICA DO BLOG)
Era uma vez, numa pacata cidade do interior de Minas Gerais...
Os habitantes de São João
Nepomuceno, nos anos 70, não ficavam apenas em casa assistindo O Cafona (da
líder de audiência TV Tupi) ou O Homem que Deve Morrer (da jovem TV Globo). As
pessoas preferiam passear na Rua do Sarmento.
Além disso, havia o cinema:
o Cine Brasil que, às vezes, arrastava multidões, principalmente nas
quartas-feiras, quando ocorria a sessão do troco e todo mundo pagava meia.
Naquele dia, estava passando A Quadrilha da Fronteira, com Lee Van Cleef.
A sinuca do Cida era parada
obrigatória para todos os rapazes que fingiam estar se concentrando no jogo,
mas ficavam de olho nas meninas (chamavam-se cocotinhas) que passavam. Enquanto as cocotinhas pareciam
interessadas nos rapazes, mas se encantavam mesmo com o ritual daquele jogo, na
época só para homens. Ao longe, o barulho do semáforo da linha férrea anunciava
a passagem do trem em frente ao Bar Central.
A cidade, meio agitada, já
preparava a organização de sua primeira Exposição Agropecuária e Industrial!
No murinho do Adil, muitas
fofocas rolavam enquanto, entre uma paquera e outra, o tempo passava
lentamente, como se não existisse. No Bar do Bode, encontros e desencontros
aconteciam e, no auge do sucesso, Rubro Bar, Zoom Frutas e Botachopp faziam a
cabeça e os passos da moçada.
As fábricas Sarmento, Dragão
e Sylder, mais as de ferraduras, tampinhas, vassouras e outras, ditavam o
progresso do município a todo vapor. O Ginásio do Sr. Ubi era referência para
todos, pois lá pulsavam os corações de uma juventude que sonhava, acordada, com
um mundo mais justo e melhor. Ideias e energias eram canalizadas em competições
esportivas e culturais, além da inesquecível fanfarra, sob a batuta do Beto
Vampiro.
O novíssimo Clube Campestre
era a nova opção de lazer oferecida pelo Clube Democráticos que, na sede, e
juntamente com Trombeteiros e Operários, realizavam os inesquecíveis bailes de
Carnaval, ocasião em que a Rua do Sarmento se enchia de foliões e curiosos,
ávidos pelos desfiles das escolas de samba Esplendor do Morro, Avenida e
Caxangá.
A cena urbana mesclava lojas
(como: A Brasileira, Tipografia, O Guri, Americana, Casa Leite) e os bares Dia
e Noite e Floriano, onde todos se cumprimentavam e tomavam um café, ou uma
cerveja.
O futebol vivia de saudades:
as torcidas de Mangueira, Botafogo e Operário lembravam os clássicos
inesquecíveis, e torciam pelos times do Rio: o Botafogo era a base da Seleção
Brasileira, mas perdeu o título carioca, com um gol roubado no último minuto.
A Rádio Mundial AM era a
onda do momento, e o grande sucesso eram as músicas internacionais. O LP
(alguém se lembra do vinil?) Explosão Mundial era um grande hit com músicas
como Summer Holliday, Imagine e You’ve Got a Friend.
Os grupos musicais,
presentes em todos os bailes de formatura e debutantes, eram os Solfas, TNT e
CBV, enquanto a prata da casa, os grupos locais, eram Os Cobrinhas e Som Livre,
comandados, respectivamente, pela Neli Gonçalves e pelo Sebastião Cri-Cri.
O prefeito – Bolote –
inaugurou as novas lâmpadas de vapor de mercúrio, que deixariam a cidade iluminada
como nunca. O padre Vicente abriu a Igreja para os jovens, e os violões
animavam as missas, os encontros, as gincanas e as campanhas de Natal e
inverno.
O grande barato era a luz
negra e as bebidas da moda eram Gin Tônica, Cuba Libre, Campari, sem esquecer a
Batida de limão e o Rabo de Galo.
Pois bem: foi nesse cenário,
ao mesmo tempo ingênuo e vibrante, conservador e psicodélico, mais precisamente
em 1971, que um grupo de rapazes se uniu, imaginando estar um dia num grande
palco, com suas músicas reconhecidas e cantadas por todos.
Ali começava a nascer, mais
do que o simples sucesso – que é efêmero – um sonho que jamais iria morrer,
pois este é o lema do grupo: O QUE SEMPRE FOI SEM NUNCA TER SIDO. Habemus Pytomba!
Crônica - Serjão Missiaggia
Adaptação - Jorge Marin
Foto - a última viagem de trem em São João (Facebook)
Foto - a última viagem de trem em São João (Facebook)