sexta-feira, 12 de maio de 2017

ADEUS AO QUIRINO


Hoje São João vai dormir um pouco mais pobre e mais triste. Quirino morreu.

Quando soube, embora não o visse pessoalmente há muitos anos, fiquei triste e foi como se um pedaço da cidade tivesse acabado. Quirino era um patrimônio nosso. Não havia quem não o conhecesse. Na noite, nas serestas, no Bar Central, no carnaval. Era presença garantida. Alegria garantida. Fineza.

Menino pequeno, quando vi o Quirino pela primeira vez foi na Brasileira. Havíamos, eu e minha mãe, ido comprar um cinzeiro, utilidade doméstica muito comum na época e, entre os diversos “caixeiros” que ficavam atrás do balcão, um se destacou, deu um passo à frente, veio até nós e, muito amável, e perfumado, nos mostrou todo o estoque de cinzeiros. Meu pai queria um com o escudo do Vasco, mas eu apontei com o dedo o do Fluminense. Quirino abriu um sorriso e aprovou: “Lindíssimo!!!”.

Na época dos antigos desfiles carnavalescos, não íamos assistir, mas ficávamos todos no portão de casa, aguardando a volta do Esplendor do Morro. A grande curtição era saber qual a fantasia masculina mais chique, a do Hermano Sachetto ou a do Quirino? Ele chegava, entre mil plumas e paetês, cumprimentava todos nós, sorria, e continuava desfilando como se ainda estivesse na Rua do Sarmento.

Lembro que uma vez, na aula de História no Ginásio do Sôbi, a professora Dona Iveta pediu a um colega para levantar e falar sobre Quirino. Na verdade, ela queria que falássemos sobre um antigo governador da Síria que substituiu Herodes. Mas a simples menção do nome Quirino causou um frisson na garotada, que não parava de rir. A velha mestra pediu que contássemos quem era esse Quirino e, meio reticentes, cada um começou a contar: era cantor, juiz de futebol, goleiro, carnavalesco. Dona Iveta acabou esquecendo da arguição e ficou encantada com aquele moço que habitava o imaginário de todos.

O tempo passou e Quirino passou, ele próprio, a fazer parte da História, da história sanjoanense, da cultura popular, dos esportes, da música. “Onde a música me levar, eu vou”, dizia ele. Cantou Recuerdos de Ypacaraí em Ypacaraí no Paraguai. Cantou Asa Branca em Paris. Foi a Roma, Buenos Aires, Bogotá. Cantando daquele jeitinho que nos acostumamos a ouvir lá no bar do Esplendor, nas serestas e onde a música o continuasse levando.

“Vocês acham que eu canto pra vocês? Né nada, eu canto é pra mim, seus bobos!”. Esse era um de seus bordões. E cantava: My Way, La Barca, Guantanamera. Mas era tão bom que pensávamos, de verdade, que ele cantava para cada um de nós.

Hoje tem exposição. Friozinho de 16 graus. Céu lindo, estrelado. Com uma estrela a mais: nosso gentleman Luiz Quirino de Freitas. “Yes, it was my way”.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : Serjão Missiaggia

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