quarta-feira, 17 de maio de 2017

O CINE BRASIL


Subindo a Rua Getúlio Vargas, mais conhecida pelos cinquentões de plantão como a Rua do Grupo Velho, nos deparamos sempre com o antigo prédio do Cine Brasil. Lugar que veio, por décadas, marcar gerações.

Diferentemente da Sinuca do Cida, esse local era frequentado por pessoas de oito a oitenta anos. Já na infância, éramos quase sempre conduzidos pelos nossos pais, principalmente num período em que existam poucas televisões na cidade, e pra lá nos dirigíamos em busca de magia que, facilmente, era encontrada nos famosos filmes de bang bang, terror , comédia, bíblicos, além é claro, de algum romance básico.  Épocas de Ben-Hur, Os Dez Mandamentos, Quo Vadis, Marcelino Pão e Vinho e outros tantos clássicos que ficariam eternizados em nossa memória.

Do lado de fora, um inesquecível cheirinho de pipoca e amendoim torrado já estaria a nossa espera, enquanto pacientemente, muitas vezes ficávamos por um bom tempo nos arrastando naquelas imensas filas. Por sinal, havia naquele período, dois cinemas na cidade e, não muito raro, víamos as filas se encontrarem numa esquina qualquer do quarteirão. 

Uma musiquinha básica ficava tocando dentro do cinema, enquanto, ainda de luzes acessas, íamos comprando balas, pirulitos e outros. Confesso que ficava superapreensivo enquanto esperava por aquele sinal sonoro que anunciava que o filme iria começar. Um som poderosíssimo e grave que dava medo e assustava muito.

Já na adolescência, muitos fatos inusitados e até engraçados chegaram acontecer, sendo que, se estivesse em cartaz um filmezinho mais apimentado, aí que a galera ficava bastante assanhada. Confesso que tentar engabelar nossas queridas e saudosas dona Zeny e a senhora Bovoy, era bem complicado.

Certa vez, fiquei, juntamente com alguns amigos, quase quarenta minutos na fila debaixo de chuva fina, pra assistir VANESSA A INSSACIAVEL. Ao chegar à portaria, fomos recebidos amistosamente por dois policiais, que, exigindo identidade, e desconfiados de nossas caras, queriam saber nossa idade. Não tivemos alternativa e, após sair de mansinho, correremos mais que depressa para as portas laterais pra ficar nos atropelando e assistindo o filme pelas gretas.

Também muitos encontros e namoros aconteciam, principalmente no andar superior. Pior é que os mais exaltados eram sempre pegos de surpresa quando, em função da fita que arrebentava, as luzes eram acendidas de repente.  Nessa hora, enquanto alguns despistavam, outros ficavam assoviando, pedindo o dinheiro de volta.

Também não menos incomôdo naquela hora de romance, era o barulho do chinelinho do saudoso Sr. Geraldo subindo e descendo aquelas escadarias. Literalmente, tínhamos que ficar de olho e de orelha em pé.

Dependendo do filme, bons cochilos aconteciam e, que eram somente interrompidos quando as luzes se acendiam e o barulho daquela cortina da portaria era aberto repentinamente ao final do filme. Mas o grande despertador mesmo eram as imensas portas laterais sendo empurradas ao término das sessões. Não sei se por sacanagem, mas esse fato sempre ocorria antes mesmo do filme terminar. Aí era aquele susto, não somente para os dorminhocos, como também para os mais distraídos.
No final, e já do lado de fora, gostávamos muito de comprar os famosos amendoins do Bié, além é claro, de brincarmos com ele.  Ainda antes de seguirmos para casa, era quase obrigatória uma paradinha no “murim” do Adil ou na Sinuca do Cida para jogar um pouco mais de conversa fora e fazermos as considerações finais.

Crônica e foto: Serjão Missiaggia

2 comentários:

  1. Ave Maria !!! Como eu viajo nessas crônicas ! Obrigada Sérgio �� Clea

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    1. Valeu, Cléa. Então, prepare-se, porque muitas outras viagens virão.

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BRIGADU, GENTE!

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