sexta-feira, 6 de outubro de 2017

HOMEM PELADO É IMORAL???


Vocês podem pensar que é zoação, mas não é!

Quando eu era mininim lá em Sãjoãopomuceno, eu sabia, aliás, eu TINHA PLENA CERTEZA DO QUE ERA IMORAL. Por exemplo, comungar de blusinha sem manga com o Padre Trajano. Ele era cego, mas não era bobo: fingindo que se apoiava no braço da fiel para não errar a boca, ele sabia direitin se a fulana estava sem manga ou não.

Depois, quando comecei a ir em filme “proibido”, assisti Laranja Mecânica e, na hora em que alguém ficava pelado, apareciam umas bolinhas pretas que cobriam algumas partes do corpo. Aí eu sabia: ali na bolinha é imoral.

Aí, veio a liberação total dos filmes, e era até chique (não sei por quê) convidar amigos para assistir filmes pornô alugados na locadora. Eu mesmo passei por um aperto danado quando, conversando com a esposa do vice-prefeito de uma cidade do interior onde eu estava morando, chega a atendente da locadora e, na lata, informa:
- Seu Jorge, já chegou o novo “Rapadinhas 2”! Quer que eu reserve para o senhor?

Para não dar muita bandeira, chegamos aos dias atuais e a polêmica do homem nu no Museu de Arte Moderna de São Paulo. O que eu percebi foi o seguinte: você chega ao museu, percorre seus corredores e vê um cartaz com um alerta dizendo “La Bêtte, performance com nu artístico”. Eu, se não tiver interesse pelo assunto, o que faço? Não entro. Mas, se eu quiser, entro.

Foi o que aconteceu com uma mãe que, acompanhada de sua filha menor de 10 anos, entendeu que a menina tinha maturidade para, não só assistir, como tocar no corpo do artista (a menina tocou nos dedos do moço). O que se seguiu foi um alvoroço na mídia, dizendo que o museu estaria incentivando a pedofilia e que, conforme o deputado João Rodrigues (do PSC de Santa Catarina), quem apoiasse esse tipo de arte merecia “levar porrada, levar cacete”.

Apesar de me considerar liberal, eu imagino que não levaria uma garotinha para uma performance desse tipo. No entanto, essa história de prender, bater, censurar, eu sou totalmente contra. Eu, por exemplo, não bebo álcool. Mas já usei, e grande parte dos meus amigos adora. Alguns até deixam o filho tomar... um golin, o que também sou contra. Nem por isso, entendo que devam fechar a Ambev, queimar os caminhões de cerveja, prender os donos.

Além disso, mesmo tendo sido criados em famílias mais conservadoras, como é o nosso caso, temos que transmitir (espero que eu tenha transmitido) com bastante clareza para os nossos filhos e netos a diferença entre nudez e sexualidade.

Cada família se preserva e se protege conforme seus códigos particulares de moral. Precisamos ficar de olho na imoralidade sim. Mas, certamente, ela está solta e impune num planalto mais ao norte e mais central do país.

Ah, o deputado que eu citei é aquele mesmo que foi flagrado em 2015, em plena reunião do Congresso, assistindo a um filme pornô em seu celular, durante a votação da reforma política.

Crônica: Jorge Marin

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